quarta-feira, 2 de setembro de 2015

os migrantes

somos uma cambada. 
há milhares de migrantes que morrem há meses nas ondas do mar Mediterrâneo. há milhares deles que morrem de fome, de sede e de cansaço desde o início das movimentações migratórias rumo à Europa. mas só agora está todo o mundo incomodado por causa do "Menino da Praia". 
um dia destes esquecem-se do "Menino da Praia", vem outra coisa mais chocante (um gato morto, um cachorro morto?) e pronto, lá fazemos de conta que nos incomodamos outra vez.
a situação é grave e não dá sinais de melhorar, de diminuir de gravidade, sequer. 
é preciso resolver os problemas das crianças, dos gatos, dos cães e também dos homens e mulheres adultos - que são afinal os que migram em primeira linha. 
é preciso compreendermos em que é que estamos metidos e por que razão nos meteram nesta situação, a nós, que os vamos receber, e a eles que querem ser recebidos. 
é preciso que quem os lançou na miséria e na debandada assuma a sua responsabilidade histórica. 
é preciso parar com a hipocrisia dos que atacam os traficantes de vidas humanas, como se não houvesse migração sem eles, como se por detrás da migração não estivessem os disparates bélicos "ocidentais" e os interesses inconfessáveis por detrás deles, como se, por último, os Estados estivessem preparados logisticamente para transportar e receber com dignidade todos os que querem vir. 
é preciso, sim, pôr fim aos traficantes, mas é preciso também - e, se calhar, primeiro - pôr fim áquilo que leva as pessoas a recorrer a eles. 
é preciso pôr fim às causas para poder pôr fim às consequências. 
é preciso agir com sabedoria e tino. antes que as novas hordas de migração deem cabo dos ovos de ouro que procuram nesta galinha europeia.

isto já aconteceu uma vez na história da Europa. era o Império Romano e algum tempo depois deixou de ser.


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