domingo, 27 de janeiro de 2013

o novo moralismo racista

agora querem crucificar o pobre do Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, porque disse simplesmente o que se vê e não o que se deve ver. pois é, o homem está desatento e desatualizado. é que já não se pode dizer que o branco é branco e que o preto é preto, que o alto é alto e o baixo é baixo, que o gordo é gordo e o magro é magro, que o homem é homem e a mulher é mulher.
mas se tirarmos o mal que certas pessoas veem na palavra "escurinho", a metáfora de Arménio Carlos não podia ser mais exata nem mais certeira. realmente, segundo a lenda ou o mito, os reis magos eram três, um deles era o Gaspar e um outro, o Baltazar, era, comèqueidedizer... não caucasiano. 
ó xente, o racismo não está nas palavras que descrevem a realidade, está nos atos, no pensamento e naquilo que sentimos. o mal não está em chamar escuro a quem é realmente escuro, o mal está em pensar e em sentir que ser escuro é ser inferior. Abebe Selassié é realmente escurinho, mas, quanto ao resto, é simplesmente um entre os três soturnos embaixadores da Troika em Portugal, tal como, sem coceiras étnicas, Baltazar, o negro, era um entre os três reis do Oriente. 

chego a pensar que os verdadeiros racistas são os que veem racismo em tudo. e, já agora, se alguém me chamar clarinho devo levar a mal?

sábado, 26 de janeiro de 2013

os deputados e a alcoolémia


um deputado do CDS-PP e uma deputada do PS foram apanhados pela polícia conduzindo com taxas de alcoolémia festiva acima do permitido por lei. provavelmente não sabemos de outros casos, de outros deputados e de outros partidos porque, simplesmente, não foram apanhados. seja como for, isso são coisas que acontecem a qualquer ser humano, seja deputado ou não. mas há por aí quem pense que os deputados e os políticos devem ser santos, vestir de branco, usar umas asinhas de tule transparente e um arquinho de oiro sobre a cabeça. isso é ridículo e dá uma medida da nossa hipocrisia bacoca, se não mesmo da nossa propensão autoritária para um justiceirismo de pacotilha. por mim, chega bem que sejam bons legisladores, que saibam qual é o interesse público do que fazem e se submetam e sujeitem, como todos nós, às leis que fazem e às consequências de as não cumprirem. nem mais, nem menos. 
o facto de serem legisladores não os impede de ser humanos e não os impede de cometer, aqui e além, desvios ou violações às leis que fazem. precisamente porque são humanos é que fazem leis (porque os animais só obedecem às leis da natureza). e precisamente porque são humanos é que podem, às vezes, não cumprir integralmente as leis que fazem. até aqui tudo bem. e continuará tudo bem se, violando a lei, forem sancionados de acordo com a própria lei que produziram. nem mais, nem menos.
caso contrário, é como punir um médico por fumar, comer um hambúrger, beber um copo ou, simplesmente adoecer. mas...será que já faltou mais?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

a grande poda














era uma árvore frondosa
talvez demais.
fazia sombra e tal,
não havia sombra igual.
vieram os de fora
fazer a poda.
e a árvore frondosa
talvez demais,
por aquele trabalho colossal
ficou um tronco sem mais.
dizem os de fora
que está melhor agora
com esse remédio mortal.
mas eu,
entristecido,
duvido.
acho poda a mais.
realmente,
que grande poda...
ó xente...





sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

a velhinha do glaucoma


Lisboa. molhado como um pitinho. vou ao Multibanco. uma velhinha, de gabardine branca aborda-me:
- senhora...
- (não respondo)
- ah, é homem...
defensivo, respondo:
- sim...
- sabe, eu não vejo, tenho glaucoma...
- (não respondo)
- sou professora, trabalhei na Emissora Nacional, estou aqui hospedada numa residencial, e se não lhes der 10 euros até ao meio dia põem-me na rua. ajude-me por favor...
chove. pareço mais um peru molhado. não tenho tempo para hermenêuticas. aceito a estória. dou-lhe dois euros, a única moeda que tinha.
- ponha-me aqui na mão, não vejo... quanto me dá?
- dois euros.
- muito obrigada...
- vá com deus...
e assim engoli a estória da ceguinha que não vê nada exceto o sítio do Multibanco.
posso ter errado na probinha certa, mas acho que sempre capitalizei qualquer coisa para desconto dos meus pecados...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

a nova ortografia da Língua Portuguesa

eu já compreendi que em questão de Acordo Ortográfico o problema não é a nova ortografia, mas sim o facto de ser um acordo entre dois países que partilham a mesma Língua. e como nós já nascemos "donos" dela, esquecendo que antes de nós estão os galegos, e connosco a partilham outros, então qualquer acordo, fosse com quem fosse, seria uma subserviência, uma queda de um pedestal imaginário. o assunto está resolvido e, felizmente, resolvido da única maneira possível: como sempre, em qualquer área normativa, através das Academias com competência para o ter feito. teria sido trágico para a Língua Portuguesa, como instrumento de comunicação e trabalho internacional, que se tivesse cedido às diatribes de quem nem sequer fez um esforço para ler o Acordo e para o compreender e conhecer. os exemplos de críticas sem fundamento e fora de propósito são mais do que a regra. a repetição de inverdades e invenções ridículas enjoa. o cheiro a aversão a tudo o que é brasileiro perpassa por todas as discussões sobre o assunto. sim, porque nós, que em tudo o mais nos consideramos inferiores aos outros, e até falamos Inglês para parecermos melhor, em matéria de Língua Portuguesa é que sabemos, nós é que falamos bem, nós é que escrevemos bem, nós é que. e se tivéssemos ficado de fora, com o nosso chauvinismo, o nosso isolacionismo e o nosso incompreensível antibrasileirismo, não seríamos, daqui a meia dúzia de anos, mais do que uns pategos dialetais a quem ninguém daria mais importância que a que se dá a um holandês ou dinamarquês ou maltês ou checo quando se exprime na sua respeitável Língua. ninguém, nem sequer aqueles falantes que, por agora, ainda se dão ao trabalho de nos seguir. porque a atração pelo gigante brasileiro é uma atração inevitável. hoje, conseguimos um acordo. amanhã, os brasileiros te-lo-iam dispensado. eles e os que hoje ainda nos seguem. passavam muito melhor sem nós do que nós sem eles. salvámos, pois, a Língua portuguesa de Portugal de desaparecer do mapa da importância internacional. estamos de parabéns.e, pela parte que me toca, não posso esconder o orgulho de, neste assunto, ter estado sempre do lado certo.

agonia

chuva, vento,
frio e cinzento,
por fora como por dentro.
e daqui, do meio desta bruma,
bem te vejo a alma nua.
ó Portugal, vou ter saudades tuas.

lamentações

bem sei que isto de lamentações está fora do politicamente correto. o correto mesmo seria um blogue maníaco, alegre, fora de tom, que cantasse as maravilhas de uma crise geral de cultura, de valores, de pensamento, de natalidade, demográfica, de visão política, de língua, de ética e de finanças, um blogue que expusesse as imensas oportunidades de mudar de vida não se sabe para onde, que cantasse hossanas à governação providencial que nos caiu em cima, acompanhado de batuque e dança a condizer. um blogue de um otimismo tonto e acéfalo. 
mas pronto, não sirvo para isso. tenho de me conformar, não passo de um queixinhas. mas sou, ao menos, um queixinhas a sério. um queixinhas científico. só não sou um queixinhas profissional porque não me pagam.

por isso chamei ao meu blogue "muro das lamentações". 
este é o meu muro, a minha experiência de catarse (do grego "Κάθαρσις"- katharsis: "purga, purificação"). 
porque não é a ignorar a crise que se ultrapassa a crise. é preciso chorá-la.

a elite parola


sobre a nova ortografia levanta-se novo acesso febril. agora aproveitando o alargamento do período de transição (e não de suspensão ou adiamento da vigência do Acordo), por parte do governo brasileiro ou, se calhar também, pela mudança de secretário de Estado da Cultura. vá lá o diabo saber ao certo. o certo é que a elite parola portuguesa não para de lutar contra o interesse nacional e contra o interesse da Língua Portuguesa no mundo.
as contas são boas de fazer. somos 240 milhões de falantes e escreventes da Língua. mas só os brasileiros são 180 milhões. quer dizer, o Brasil representa 3/4 da Língua, nós e os restantes, 1/4  (e deste 1/4, como é sabido, nem todos são bem-bem lusofalantes e muito menos bem-bem lusoescreventes).



é bom de ver que, no caso de não harmonizarmos as nossas normas escritas, se não houver uma norma comum, sempre que a nível internacional se tenha de escrever em Língua Portuguesa a norma utilizada será a brasileira. isso já se verifica em documentos da própria União Europeia.

como é bom de ver, o Brasil não precisa de nós para nada. nós é que precisamos que o Brasil adira a um Acordo connosco. caso contrário, ficaremos dependentes da norma brasileira. e é muito bem feito.

mas a estupidez da elite parola portuguesa não chega lá. prefere ser autocontemplativa, autossuficiente e pequenina.

e pior: a elite parola já não argumenta, já não dá razões. diz que a nova ortografia é "desconchavada", "pessimamente fundada" e "inútil". a elite parola é assim: decreta e já está. politicamente correta, estúpida e gravemente daninha para o País e para a Língua Portuguesa. 

gente fina é outra coisa...

que deus vos perdoe.

……………………………………………………………………………………………. 
PS: o que estamos a assistir é a uma rivalidade Angola-Brasil, que teríamos obrigação histórica de apaziguar e resolver, no superior interesse da Língua e da Cultura Portuguesas. pelo meio, metem-se uns pequenos interesses editoriais e umas pequenas vaidades intelectuais com medo que o Brasil os coma, em lugar de verem no Brasil uma enorme oportunidade de expansão. enfim, a inteligência é um bem escasso...





lusitanos...


a minha filha de 8 anos apresenta-me o seu livro "História de Portugal", do 1º. Ciclo do Ensino Básico. e quer que a ajude a compreender o que diz na página 9:

"Lusitanos - assim se chamavam os nossos antepassados. eram descendentes dos Celtiberos (povos descendentes da união dos Celtas com os Iberos) e habitavam a Lusitânia. viviam em grupos de famílias (tribos) e habitavam pequenas casas redondas ou quadrangulares, no cimo dos montes, para melhor se poderem defender dos inimigos. a estes povoados deu-se o nome de castros".

sobre a Galécia, a Galiza, o Norte de Portugal, nada. um imenso amarelo. 
sobre os castros de Sanfins, Briteiros, Santa Luzia, Sabroso, Santa Tecla, que ela conhece, nada. 

- ó papá, que tem a Galécia ou Galiza de mal para não falarem dela? - pergunta-me. 
- ó filha, sei lá, talvez não saibam, talvez tenham aprendido mal a História de Portugal... 

não tarda nada estão a ensinar que Afonso Henriques era descendente de Viriato por parte do pai e de Sertório por parte da mãe... 
o interessante disto é que, para fugir à questão galega, a História que se ensina em Portugal nos faça descendentes de um povo de uma Província romana com capital em Mérida. e esqueça que, se somos descendentes dos Lusitanos - bem decerto alguns seremos -, fomos então conquistados por galegos rebeldes (Afonso Henriques & Cª.) enfim... 



lusitanos?...pfff...